É preciso mudar cultura expansionista, diz Carlos Nobre

É preciso mudar cultura expansionista, diz Carlos Nobre

A agricultura do Cerrado brasileiro pode ficar completamente inviável em um horizonte de 30 anos se o aquecimento global não for combatido. Palavras de Carlos Nobre, um dos principais pesquisadores brasileiros sobre os efeitos das mudanças climáticas, para quem é necessário cada vez mais conciliar a produção agropecuária com sistemas florestais.

“Os setores mais modernos do agronegócios no mundo e também no Brasil veem o quanto é importante manter um sistema com florestas e agricultura convivendo pacificamente”, afirmou o cientista, lembrando que as florestas sequestram carbono da atmosfera, conservam o solo, mantém populações de polinizadores e evitam a ocorrência de extremos climáticos.

No Acordo de Paris, o Brasil se comprometeu a reflorestar 12 milhões de hectares de florestas até o ano de 2030. Em entrevista ao programa Diálogos com Mário Sérgio Conti, exibida na quinta-feira (21/1) pela Globonews, Carlos Nobre mencionou que os países que mais recuperam florestas no mundo são China e Índia e colocou o Brasil entre os de maior potencial de reflorestamento.

Nobre afirmou que é possível conciliar o aumento da produtividade agrícola com a questão ambiental. Manter as florestas, pontuou, é essencial para o aumento da produtividade na agropecuária. Acrescentou que o Brasil tem bons exemplos do que chamou de “agricultura moderna”, mas ainda é preciso uma mudança de cultura em parte do setor, que ainda prioriza a extensão da área.

Segundo o pesquisador, ainda há uma parcela do agronegócio brasileiro que tem uma cultura expansionista, em que a expansão de fronteiras agrícolas é considerada prioritária. Carlos Nobre sugere que, para esses produtores, a posse da terra tem um valor “até mais cultural do que econômico” e o tamanho da propriedade muitas vezes é mais importante que sua rentabilidade.

Citou como exemplo o nível de produtividade média da pecuária brasileira, que classificou como baixo, de 1,3 cabeça por hectare. E lembrou que há estudos feitos pela Empresa Brasileira de Pesquisa Agropecuária (Embrapa), indicando que é possível aumentar essa distribuição para 3 ou até 4 cabeças de gado por hectare com elevado nível de rentabilidade.

“Na cultura expansionista, uma pré-condição é negar o que as florestas fazem. Precisamos mudar para uma cultura até mais de lucro e menos de tamanho. Há uma agricultura moderna no Brasil. Há bons exemplos e as tecnologias não são tão caras para atingir esses níveis”, disse Nobre, para quem esses exemplos de agricultura mais avançada ainda existem em menor escala.

Fonte: Globo Rural.