Estudo da Unicamp aponta falta de conhecimento dos consumidores sobre sustentabilidade

Estudo da Unicamp aponta falta de conhecimento dos consumidores sobre sustentabilidade

Uma pesquisa da Unicamp, em Campinas (SP), avaliou a percepção que consumidores têm sobre sustentabilidade e concluiu que muitas pessoas confundem conceitos, de acordo com seu nível de informação e escolaridade, e não priorizam comportamentos que podem beneficiar o meio ambiente.

Os efeitos práticos de uma alimentação saudável e sustentável dependem do investimento em educação e políticas públicas para tratar o tema de forma palpável junto aos consumidores, defende a nutricionista e pesquisadora Bruna Barone.

“Esse estudo contribui principalmente para as questões de políticas públicas, começar a pensar mais no sentido de promover a alimentação mais sustentável e saudável. A partir disso, ter mais campanhas, levar mais informações para os consumidores. Quando eles não têm informações, fica difícil cobrar algo deles”.

Ao todo, 590 consumidores das regiões de Campinas, Jundiaí (SP) e São Paulo tiveram os comportamentos e crenças sobre o tema analisados.

O estudo foi realizado pelo Departamento de Alimentos e Nutrição da Faculdade de Engenharia de Alimentos (FEA) como tese de doutorado de Bruna, com orientação do professor Jorge Herman Behrens.

Segundo Bruna, é a primeira pesquisa do Brasil que explora as representações mentais dos consumidores brasileiros sobre sustentabilidade, a relação deles com os alimentos e o que motiva as escolhas alimentares.

“Fiz pesquisa na literatura brasileira com relação ao que o Brasil já tinha sobre a percepção da sustentabilidade. Percebi que a gente só tinha pesquisas quantitativas em categorias fechadas (meio ambiente, recursos naturais), o que faz com que o consumidor se sinta forçado a responder dentro dessas categorias, mas não significa que ele sabe o que é”, afirma Bruna.

“Esses resultados acabam auxiliando no desenvolvimento de estratégias de educação alimentar nutricional”, explica.

Conceito de sustentabilidade

A pesquisadora entrevistou pessoalmente 150 pessoas, com ensinos superior e médio, na primeira etapa do estudo, usando técnicas que permitem “respostas livres” dos consumidores, de acordo com o entendimento de cada um. Ao expor quatro questões, eles foram desafiados a escrever o que viesse às mentes deles.

“Técnicas que trabalham no sentido de dar um estímulo para o indivíduo. A partir delas, a gente consegue levantar as crenças, as atitudes, as motivações, tudo o que o indivíduo associa ao estímulo. A gente consegue, de uma forma indireta, levantar todas as informações que a gente precisa”, explica a nutricionista.

A pesquisa traz o conceito da ONU sobre sustentabilidade como um “desenvolvimento que atende às necessidades das gerações atuais sem comprometer a capacidade das gerações futuras para atender às suas próprias necessidades”.

Os entrevistados concluíram, ao responderem, que sustentabilidade se trata de alimentação saudável produzida de forma sustentável. Também citaram os alimentos orgânicos, apesar de não ser um hábito forte nos brasileiros.

“O conceito de sustentabilidade tem três pilares: ambiental, social e econômico. Mas, o meio ambiente é muito forte para os indivíduos, por uma questão histórica”.

Superior x médio

“O ensino superior relacionou mais com as questões do meio ambiente e econômica, principalmente os homens. No ensino médio, as pessoas relacionaram mais com nutrição e o sustentar, principalmente as mulheres”, afirma a pesquisadora.

O estudo ressalta que determinadas formas de produção têm forte impacto ambiental com prejuízos para a saúde. Se o consumidor não estiver conscientizado disso, não vai exigir mudanças em prol da preservação do meio ambiente por parte dos produtores e permitir maior consumo de alimentos saudáveis.

Hábitos alimentares

A segunda etapa da pesquisa foi aplicada online a 440 consumidores e focada nos hábitos alimentares sustentáveis.

A ideia era analisar o entendimento sobre os benefícios ambientais resultantes de um consumo sustentável e a capacidade que teriam de mudar o comportamento, reduzindo carne vermelha, por exemplo, que acarretaria na redução da emissão de gás carbônico na atmosfera.

“Uso de produtos com embalagens recicláveis, o uso do alimento de forma integral, compras que evitem desperdício, escolha de alimentos produzidos na região de moradia do entrevistado, aumento da ingestão de frutas e hortaliças, aquisição de produtos sazonais, orgânicos, e diminuição de alimentos processados e de carnes”, afirma a pesquisadora.

O estudo identificou que a atitude de comprar em quantidade que evite o desperdício foi predominante entre os entrevistados, mas a realidade do país, analisada na pesquisa, é de um histórico de desperdício tanto no consumo quanto na produção de alimentos.

“As pessoas até consideram a questão do desperdício de alimentos, do benefício ambiental, mas, de uma forma geral, relacionando com dados da literatura, a gente vê que o Brasil é um dos países que mais desperdiçam alimentos, desde a produção até a mesa dos consumidores”.

 Fonte: G1.