“Não sou a origem do movimento. Já existia. Precisava apenas de uma faísca para acender”, disse Thunberg, enquanto um manifestante agitava um cartaz com um jogo de palavras em referência à ativista: “Make the planet Greta again”. “Vivemos uma crise existencial ignorada durante décadas. Se não agirmos agora, será muito tarde”, disse Thunberg.
Desde o ano passado, Greta já discursou em eventos internacionais como a COP24, a Conferência do Clima da ONU, em dezembro, e no Fórum Econômico Mundial, em Davos, na Suíça, em janeiro. Nesta quinta (14), ela foi indicada ao Prêmio Nobel da Paz por três políticos noruegueses por causa da sua atuação na agenda ambiental.
Sextas-feiras pelo Futuro
Os jovens saíram de suas escolas e ocuparam as ruas em cidades como Wellington, Sydney, Bangcoc, Hong Kong, Kampala, Roma, Recife e Belo Horizonte aderindo à greve estudantil internacional que deve atingir outras cidades durante o dia, de Boston a Bogotá, passando por Daca, Durban, Lagos e Londres, além de outras cidades do Brasil.
No Recife, cerca de 30 estudantes se concentraram na Praça do Derby, na região central da cidade. “Se Greta conseguiu chamar tanta atenção sozinha e comover diversos países para entrarem no movimento com ela, por que não nos reunirmos em duas, três ou trinta [pessoas]? Meu sonho é ver a Agamenon Magalhães inundada de gente mostrando que temos que cuidar do Rio Capibaribe”, afirma uma das organizadoras, Luciana Naira.
Em Brasília, o número de manifestantes na capital federal foi pequeno, cerca de 10 pessoas, mas contou com cartazes coloridos feitos à mão. Os filhos de José Porfírio seguravam alguns deles.
O servidor público disse ao G1 que é necessário mudar os hábitos e a maneira de viver. Segundo ele, a forma de crescimento econômico deve ser revista, pesando no custo para o planeta.
“Vi o apelo da Greta e expliquei para eles que teria o evento. Perguntei para eles se queriam vir e se entendiam, e eles vieram.” – José Porfírio
Em Belo Horizonte, um grupo de cerca de 100 pessoas se reuniu na Praça da Liberdade com cartazes pedindo mais atenção ao ambiente.
Roberta Scarpelli, de 17 anos, estudante de Ciências Socioambientais na UFMG, disse que já se mobiliza em prol das questões ambientais há muitos anos e que, assim que soube do “Fridays for Future” se empenhou para que ele acontecesse na capital mineira.
“É importante participar de iniciativas como essa porque não podemos nos silenciar frente às atrocidades que são praticadas diariamente contra o nosso planeta. O Brasil está na iminência de sair do Acordo de Paris e não podemos deixar que isso ocorra. Precisamos ter leis mais conscientes quanto a mineração para evitar que crimes como os de Brumadinho e Mariana continuem ocorrendo”, diz.
Tulio Silva, de 28 anos, era um dos participantes. “Nenhuma profissão ou formação faz sentido sem um planeta estável para exercê-la”, diz.
No Rio de Janeiro, os manifestantes se reuniram em frente à Assembleia Legislativa (Alerj). Cerca de 40 jovens com entre 15 e 25 anos participaram do protesto.
Na França, onde estão previstas diversas manifestações, um grupo bloqueou a entrada da sede do banco Société Générale no bairro de negócios de Paris, com o objetivo de denunciar o financiamento nocivo da instituição para o clima.
Nos Estados Unidos, cerca de 50 estudantes nova-iorquinos se fingiram de mortos em frente à ONU para exigir ações urgentes contra o aquecimento global.
“Hoje os jovens dos Estados Unidos declaram o fim da era da negação da mudança climática (…) Pedimos aos líderes para agir com urgência”, disse Villasenor Alexandria, uma das organizadoras do protesto, de 13 anos.
O presidente Donald Trump nega o aquecimento climático e retirou os Estados Unidos do Acordo de Paris, que visa impedir o aumento da temperatura do planeta.
“Peço aos políticos que reflitam sobre que vai acontecer quando já não estiverem aqui, e sobre as crianças que sofrerão por causa de suas decisões”, disse à AFP Emma Rose Turoff, de 15 anos.
Em Uganda, muitos jovens não compareceram às aulas em diversas escolas. O país “sofre deslizamentos de terra, inundações, onde as pessoas morrem em consequência da mudança climática”, denunciou à AFP Leah Namugera, 14 anos, durante um protesto em uma estrada entre Kampala e Entebbe.
Em Amsterdã, cerca de seis mil estudantes foram às ruas um dia após o governo holandês confirmar as dificuldades para atingir os objetivos de redução de emissões de CO2.
Na Nova Zelândia, as escolas advertiram que marcariam a falta dos estudantes.
Na Austrália, o ministro da Educação, Dan Tehan, também questionou os protestos.
“Que os estudantes abandonem as escolas durante o horário de aula para protestar não é algo que deveríamos estimular”, disse.
Mas os ativistas receberam o apoio da primeira-ministra neozelandesa, Jacinda Ardern, que destacou a importância para as jovens gerações de enviar uma mensagem.
Josei Mason, uma estudante de 20 anos da Universidade de Wellington, afirmou que está “emocionada porque os jovens estão sendo ouvidos e estão se posicionando neste momento”.
“Chamam a nossa geração de ‘slacktivist’ (ativistas de sofá) porque é muito fácil dizer que você vai a um evento em uma página do Facebook, ou que gosta de algo, mas depois realmente não faz nada”.
Apesar dos 30 anos de advertências sobre as graves consequências doa aquecimento global, as emissões de dióxido de carbono atingiram níveis recorde nos últimos dois anos.
Os cientistas afirmam que seguir despejando gases que provocam o efeito estufa na atmosfera ao ritmo atual pode resultar em um planeta impossível de viver.
“Sobre a mudança climática, temos que reconhecer que falhamos”, disse Thunberg no Fórum Econômico Mundial de Davos, em janeiro último.
O Acordo de Paris sobre o clima anunciado em 2015 exige limitar o aumento da temperatura no planeta abaixo de 2ºC, se possível 1,5ºC.
Atualmente, porém, o aquecimento do planeta segue a caminho do dobro deste índice.
O Painel Intergovernamental sobre Mudanças Climáticas (IPCC) da ONU advertiu em outubro passado que apenas uma completa transformação da economia global e dos hábitos de consumo poderia impedir uma catástrofe climática.
*Com agências internacionais. Colaborou G1 PE e G1 DF