Carnaval sustentável: glitter biodegradável, copos reutilizáveis e confete ecológico são opções
Uma tendência forte promete tomar as ruas do país no carnaval em 2019. Além das fantasias, muita gente está se preparando para viver um carnaval bem mais amigo do meio ambiente.
Glitter biodegradável, copos reutilizáveis e até confete ecológico estão entre as propostas para um carnaval sustentável. Empresários e ambientalistas apostam em inovações para uma folia mais consciente.
Glitter biodegradável
Já há alguns anos que o glitter- ou purpurina – vem ganhando a fama de vilão. Amado por muitos, o pozinho é feito de plástico e não se degrada no meio ambiente com facilidade. Alguns especialistas alertam que apesar de parecer inofensivo, o glitter pode afetar a vida marinhacaso seja ingerido por animais ou se acumule em corais e outras formações.
Pensando nisso, algumas empresas produzem glitter que pode ser usado sem peso na consciência. A marca Glitra é uma das que aposta desde 2018 nessa mudança de postura dos foliões.
Fã de carnaval, Maíra Inae, teve a ideia do glitter biodegradável em uma viagem ao festival Burning Man, que tem uma proposta sustentável e onde o uso do glitter é proibido: “Voltei para o Brasil, comecei a pesquisar alternativas e vi que existiam algumas opções de purpurina biodegradável, mas elas não brilhavam muito. Para ser ecológico e sustentável, tinha que abrir mão do brilho”.
Depois de alguns meses de pesquisa, Maíra descobriu uma empresa europeia que fazia a impressão metalizada usada no glitter, mas em filme de celulose de eucalipto o que torna o produto biodegradável. Sabendo disso, ela desenvolveu uma maquiagem orgânica, sustentável e que atendia à uma das principais demandas do carnaval: brilhava!
“Desenvolvi uma maquiagem vegana, que é com manteiga de karitê, óleo de jojoba e vitamina E. Com uma textura que já misturada com a purpurina, você passa e ela não escorre com o suor. Você passa de manhã e ela fica com você até de noite”, diz.
A maquiagem da Glitra vem em latinhas de 8 gramas, que segundo Maíra duram dois anos e mais de 300 aplicações. Cada latinha custa em média R$ 55.
Maíra diz que ainda trabalha para uma conscientização do público, que às vezes reclama do preço, mais alto por conta do material importado.
“É sair daquele lugar do descartável, a gente não quer incentivar milhares de compras. Queremos que você faça uma boa compra que vá te acompanhar por muito tempo. Que seja um produto que vá fazer bem para você e para o meio-ambiente”, Maíra Inae, criadora da Glitra.
A marca Pura Bioglitter também produz opções de pó brilhante sustentável. O produto é feito a partir de uma pasta de alga e mica, pó que vem da mineração e é biodegradável. Um pote com 10 ml custa R$ 18.
As opções de glitters biodegradáveis e veganos também são boas para a pele. “O glitter comum é uma folha de plástico com uma de alumínio, que é bem tóxico para o nosso corpo. O plástico é meio abrasivo então tem gente que fica com alergia por causa dos pequenos arranhões que ele pode causar. Já o glitter de alga é hidratante e o agar-agar pode ser usado como colágeno”, explica Frances Sansão, da Pura Bioglitter.
As expectativas para este carnaval são altas. Em 2018, a marca fez dez quilos de glitter e não conseguiu atender a demanda: “Este ano, resolvemos fazer 50 quilos. Ainda é muito abaixo da demanda porque a gente não consegue se comparar com a quantidade de glitter comum que é usado. A expectativa é que a gente consiga produzir e vender isso tudo e ainda tenha quem fique sem glitter biodegradável”, diz.
Mais consciência, menos lixo
Há ainda uma nova tendência no comportamento do folião: a conscientização do uso de descartáveis e da diminuição do lixo que costuma ficar pelas ruas.
A marca T-shirt Factory (TSF) lançou para este carnaval uma linha copos reutilizáveis com frases inspiradas em memes e até mesmo um cordão para a pessoa não correr o risco de perder o item no bloco.
“Pensei que se a gente fizesse uns copos sustentáveis, conseguiria reduzir o número de latinhas e de copos que ficam jogados pela rua depois dos eventos. E fazer isso com uma pegada divertida porque a ótica sustentável não precisa ser chata”, explica Eduardo Derrico, criador da marca.
Derrico acredita que talvez algumas pessoas nem estejam comprando o produto porque ele é sustentável, mas mesmo assim acabam contribuindo para a causa: “Estamos com essa pauta de sustentabilidade porque ela é importante. Para algumas pessoas pega mais forte, para outras não tanto. Se eles estiverem em uso reduzindo o número de copos, já está ajudando”.
A empresa Menos 1 Lixo também lançou uma versão carnavalesca do seu copo de silicone retrátil. Para a festa de 2019, eles lançaram 4 modelos de tampas e um cordão para o copo: “A cordinha carrega a nossa campanha, #LevaOCopoProBloco, pra estimular todo mundo a não usar nenhum descartável (nem purpurina de plástico, viu?) na maior festa do país”.
O copo com a tampa e a cordinha custa em média R$ 55. O kit com 4 tampas e uma cordinha para quem já tem o copo custa R$ 35.
Confete ecológico
Nas redes sociais, uma imagem do confete ecológico- feito a partir de folhas secas e caídas no chão com um furador de papel- faz bastante sucesso. A ideia do engenheiro ambiental Vitor Hugo Sampaio, que mantém o “Referencial Verde”, um perfil com propostas de soluções para o meio ambiente, era compartilhar uma solução simples.
“Tenho costume de plantar mudas de árvores nativas no canteiro central da avenida próximo a minha casa. Em uma dessas atividades de plantio, me ocorreu a ideia de aproveitar a enorme disponibilidade de folhas caídas e tentar adaptar à fabricação caseira dos tradicionais confetes. Ao realizar alguns testes e ter a certeza de dar certo, com resultados semelhantes ao de papel, compartilhei a ideia na minha página para que mais pessoas pudessem fazer o mesmo”, explica.
Ele explica que depois descobriu que a ideia não era original, mas ficou feliz com a repercussão positiva e com a popularização do método na sua página.
O confete ecológico pode parecer apenas mais uma onda dos “ecochatos”, mas Sampaio pondera que os efeitos das grandes quantidades de papel no chão podem ser muitos, já que o confete tradicional é feito a partir de folhas de jornais, revistas, celofane, papel metalizado e outros materiais.
“Se analisarmos de forma racional essa prática, na verdade estamos jogando resíduos diretamente no chão, que suja as ruas, demora a se decompor e, em grandes quantidades, pode prejudicar o sistema de drenagem urbano e até mesmo chegar às estações de tratamento ou ambientes aquáticos”, diz Sampaio
Fonte: G1.