Queda nas emissões devido à pandemia não irá interromper mudanças climáticas, diz ONU

Queda nas emissões devido à pandemia não irá interromper mudanças climáticas, diz ONU

Uma queda esperada nas emissões de gases de efeito estufa associada à crise econômica global causada pela pandemia de COVID-19 é apenas uma “boa notícia a curto prazo”, disse o chefe da agência meteorológica da ONU na quarta-feira (22).

“Essa queda de 6%, infelizmente, é (apenas) boa notícia a curto prazo”, disse o professor Petteri Taalas, secretário-geral da Organização Meteorológica Mundial (OMM), em referência a uma queda de 5,5% a 5,7% nos níveis de dióxido de carbono devido à pandemia, sinalizada pelos principais especialistas em clima, incluindo o Center for International Climate Research.

Quando a economia global começar a se recuperar do novo coronavírus, a OMM espera que as emissões voltem ao normal.

“Pode até haver um aumento nas emissões porque algumas indústrias foram interrompidas”, alertou o chefe da OMM.

CO2 em níveis recordes mais uma vez
Os últimos dados da OMM publicados para coincidir com o 50º aniversário do Dia da Terra, em 22 de abril, indicam que os níveis de dióxido de carbono (CO2) e outros gases de efeito estufa na atmosfera atingiram novos recordes no ano passado.

Os níveis de dióxido de carbono foram 18% maiores de 2015 a 2019 do que nos cinco anos anteriores, de acordo com o relatório Global Climate 2015-2019 da OMM.

O gás “permanece na atmosfera e nos oceanos por séculos. Isso significa que o mundo está comprometido com a mudança climática continuada, independentemente de qualquer queda temporária nas emissões” devido à pandemia, afirma o relatório, com dados indicando que as concentrações de CO2 estão no caminho certo” para atingir ou mesmo exceder 410 ppm no final de 2019”.

A queda prevista nas emissões de carbono é refletida pelas reduções nos níveis de poluentes atmosféricos comuns causados ​​por escapamentos de carros e energia de combustíveis fósseis, como partículas de óxido nitroso (N2O).

“Sua vida útil é tipicamente de dias a semanas, então o impacto é visto mais rapidamente”, disse o professor Taalas. “Mas essas mudanças nas emissões de carbono não tiveram nenhum impacto no clima até agora”.

Ar mais limpo, mesmo nas cidades mais poluídas
Destacando a dramática melhoria na qualidade do ar nas principais cidades e regiões industrializadas “em várias partes do mundo”, o chefe da OMM observou que esse tem sido o caso “na China, na Índia e também aqui perto de nós, na Planícia Padana, no norte” da Itália, que é uma das áreas mais poluídas da Europa. E vimos isso também em cidades como Paris.”

A mudança climática é “de uma magnitude diferente” na comparação com os problemas colocados pelo novo coronavírus, insistiu o professor Taalas, ressaltando seu sério risco à saúde, além de um impacto econômico devastador.

Mitigar as mudanças climáticas é uma questão de sobrevivência
Considerando que os últimos 50 anos viram os sinais físicos das mudanças climáticas – e seus impactos – ganhando velocidade a uma taxa perigosa, o secretário-geral da OMM insistiu que, a menos que o mundo possa mitigar as mudanças climáticas, isso levará a “a persistente problemas de saúde, especialmente fome e incapacidade de alimentar a crescente população mundial e haverá também um impacto mais maciço na economia”.

Desde o primeiro Dia da Terra em 1970, os níveis de dióxido de carbono subiram 26% e a temperatura média do mundo aumentou 0,86 grau Celsius (33,5 Fahrenheit).

O planeta também está 1,1 °C (quase 34F) mais quente que a era pré-industrial e espera-se que esta tendência continue.

Em seu último relatório de alerta sobre os impactos das mudanças climáticas, a agência da ONU confirmou que os últimos cinco anos foram os mais quentes já registrados.

Esse aquecimento foi desigual, com a Europa registrando a maior mudança na última década (de cerca de +0,5 °C) e a América do Sul com a menor mudança.

Outros indicadores-chave mostraram uma aceleração da mudança climática nos últimos cinco anos.

Isso inclui o calor e a acidificação dos oceanos, o aumento do nível do mar (até 112 milímetros desde 1970), o derretimento das geleiras e o derramamento de gelo no mar Ártico e Antártico (com perda de gelo cinco vezes maior nos últimos cinco anos, em comparação à década de 1970).

Fonte: ONU/Brasil